top of page

2019

No final de fevereiro, meu saldo eram 12 plantas, em estágios completamente variados de desenvolvimento. Das 24 que cheguei a ter, metade sobreviveu aos insetos. Nesse período, a cada mês eu me espantava mais, pois, quando achava que entendia algum padrão de crescimento, a planta se metamorfoseava, e minha impressão era que havia várias plantas diferentes na mesma. O foco continuava sendo mantê-las vivas, e só um bom tempo depois entendi que eu ficava com o coração ocupado em resolver basicamente as questões de sobrevivência. 

As plantas cresciam bem, os insetos davam alguma trégua, mas nunca desapareciam de vez, pareciam amar as folhas tenras. Eu limpava. Limpava com escova de dentes, com água e sabão, folha por folha. Catava o que via na terra que achava estranho. Até esse ponto, nem me atrevia a usar preparados biodinâmicos, era tudo ainda um grande mistério para mim, e eu só pensava em manter as plantas vivas. Na verdade, tinha dentro de mim essa urgência: manter as plantas vivas.

01022019_14.JPEG
01022019_15.JPEG
01022019_19.JPEG

As plantas cresciam bem, os insetos davam alguma trégua, mas nunca desapareciam de vez, pareciam amar as folhas tenras. Eu limpava. Limpava com escova de dentes, com água e sabão, folha por folha. Catava o que via na terra que achava estranho. Até esse ponto, nem me atrevia a usar preparados biodinâmicos, era tudo ainda um grande mistério para mim, e eu só pensava em manter as plantas vivas. Na verdade, tinha dentro de mim essa urgência: manter as plantas vivas. Eu trabalhava. Sentava e limpava, olhava, desenhava, mas só tinha em mente mantê-las vivas. Meus amigos agricultores sugeriam havia tempos que eu colocasse as plantas no chão. Eu sabia que não podia fazer isso. Aumentava o tamanho dos sacos, trocava a casinha de lugar conforme o ano ia passando, procurando pelo melhor sol. E elas continuavam na casinha telada, única proteção contra os insetos, fora a minha limpeza manual.

17032019-9.jpg
17032019-6.jpg
17032019-1.jpg
17032019-2.jpg
detalhe2.png

Um ano se passou, consegui manter as plantas vivas! Hora de entregar meu trabalho de Observação Fenomenológica no curso. Fiz isso, e me causou uma grande emoção, muito maior do que jamais poderia imaginar. Era uma espécie de "missão cumprida", eu achava, mas não foi bem assim...

Parte das plantas estava enorme, praticamente incompatível com os recipientes que as continham. Era bem essa a impressão, "contenção", e outra parte, devastada pelo ataque de insetos. Meu sentimento era de compromisso: o que eu faria com aquelas plantas? Já não era mais uma missão e nem acabava na entrega do trabalho. Acho que ali começou meu verdadeiro trabalho de observação. E então descobri que aquilo não era só um trabalho de curso. Uma semente tinha sido plantada no meu coração.

29082019_03.jpg
29082019_06.jpg
29082019_07.jpg
Valeriana officinalis germinada no Brasil, com sinais de impulso floral
29082019_04.jpg

No alto, uma planta pouco atacada pelos insetos; acima, uma parcialmente atacada; e, no detalhe da mesma planta, o impulso para floração visivel: as quatro folhas centrais em posição ortogonal.

À esquerda, detalhes dos insetos, cochonilhas e pulgões, presentes em todas as plantas.

Decidi colocar no chão aquelas que estavam grandes e razoavelmente inteiras. Dinamizei o preparado chifre-esterco para favorecer o transplante para o solo. Também recolhi o máximo de insetos que consegui e fiz deles cinzas para dinamização, pois no chão estariam realmente à mercê do que viesse. Ainda antes de voltar, dinamizei o preparado chifre-sílica, pensando em dar um impulso de estruturação maior às folhas, tornando-as menos apetitosas aos insetos. Estes procedimentos eu fiz com todas as plantas.  

Sete ficaram, e as quatro outras foram trazidas comigo para o Rio de Janeiro, para cuidar delas mais de perto e tentar reparar os danos dos insetos, pois elas estavam, em maior ou menor grau, bem estragadas. Duas delas, porém, mesmo assim, apresentavam também o impulso para floração visível. (fotos à direita)

29082019_23.jpg
29082019_20.jpg
29082019_19.jpg
Sinal de impulso floral em Valeriana officinalis germinada no Brasil, na Serra da Bocaina, São Paulo
29082019_14.jpg

As plantas foram colocadas dentro do espaço da horta, pois teriam proteção contra as criações (aves e bovinos). Foram retiradas dos sacos (foto à esquerda), e colocadas no chão (foto abaixo) seguindo um espacejamento de aproximadamente 50cm.

Valerianas transplantadas para o chão, Brasil, 2019

No Rio de Janeiro, as plantas, já com mais tempo de vida, cresciam muito rápido, muito mais rápido do que na Serra da Bocaina.

A troca de ambiente pareceu fazer bem àquelas mais atacadas pelos insetos, e aos poucos eles sumiram por completo.

Eu seguia com a estratégia de manter as plantas na casinha telada, e troquei os sacos por vasos de 9 litros, para que elas tivessem espaço adequado para se desenvolver.

Na Bocaina, as plantas cresciam mais devagar, e estávamos instalando um sombrite em cima da horta, pois o tempo já estava bem quente, e elas pareciam sofrer um pouco com o sol direto, apesar de estarem visivelmente melhores no chão do que nos sacos plásticos.

Valeriana officinalis na cidade do Rio de Janeiro
12092019_02.jpg
12092019_10.JPG
12092019_03.jpg
12092019_01.jpg
12092019_09.JPG
13102019_01.jpg
12092019_05.JPG
12092019_06.JPG
12092019_08.jpg

Enquanto cuidava das plantas maiores, eu tentava germinar uns restos de sementes já vencidas. Uma plantinha em 12 e 18 de setembro e em 3 de outubro de 2019. Esta mesma planta seria transplantada diretamente para o chão, a título de experiência, para as margens do Rio Paraitinga. Mas as capivaras a encontrariam.... Essa é uma história incrível que conto em 2020. Acima desta sequência, as plantas vindas da Bocaina, já bem maiores, e transplantadas dos sacos plásticos, para recipientes de 9 litros.

Novembro. Um ano e quatro meses depois de começar o cultivo, a Valeriana realmente se apresenta para mim em toda a sua beleza: aparece o primeiro botão floral. Contrariando todas as expectativas, o fato acontece no Rio de Janeiro, ao nível do mar, num vaso, na varanda de um apartamento. As plantas estavam enormes, mal cabiam nos vasos também enormes, que por sua vez, mal cabiam dentro da casinha telada. Dinamizo e aplico o preparado chifre sílica.

Na maior é possível ver o pequeno pontinho branco, central, no vaso que porta a menor planta. No detalhe, o botão floral no dia 3 de novembro. Logo depois, na outra foto, em 4 de novembro.

Enquanto isso, exatamente no mesmo período, na Serra da Bocaina, já sob o sombrite, as plantas cresciam muito, mas ainda não havia nenhum botão floral. Meu plano era aguardar a floração da planta carioca evoluir, e depois levar todas de volta.

Botão floral de Valeriana officinalis, florindo na cidade do Rio de Janeiro, evento incomum
valeriana-officinalis-botão-floral.jpg
04112019_02.JPG
flor_desenho.png

A floração seguia com força total, e eu monitorava do Rio de Janeiro, com dificuldade, o estado das plantas lá na Bocaina. Queria levar todas as plantas de volta, mas precisava esperar a conclusão do processo de floração

Floração de Valeriana officinalis, em vaso, na varanda de um apartamento, no Rio de Janeiro
03112019_06.jpg
04112019_03.JPG
06112019_02.jpg
11112019_01.JPG
18112019_01.JPG
24112019_01.JPG

Em meados de dezembro, havia muitas sementes, mas não tinha certeza se haviam sido polinizadas. Eu havia observado insetos variados, pois a flor cheirava longe. Pensava em como coletaria as sementes. Tentava coletar quando elas estavam maduras para voar, mas, como eram mínimas, a tarefa requeria paciência e delicadeza nas mãos.

No dia 13 de dezembro, coleto, congelo e planto no dia seguinte, 14/12, um punhadinho de sementes, em torno de 20. No dia seguinte, arrumei tudo o que precisava – os quatro vasos enormes, incluindo a planta em final de floração e fui para a Bocaina.

07122019_09.jpg

A chegada à Bocaina foi uma surpresa: eu estava certa de que havia flores, pois já tinha mandado recado e recebido resposta, mas a proporção do que encontrei ultrapassou tudo que jamais poderia ter imaginado. 

Havia um mar de flores abertas, montes de botões florais em vários estágios, e o mais incrível: a horta tinha um perfume que se sentia muito antes da chegada e uma movimentação de insetos nas flores impressionante.

Das sete plantas, três estavam florindo, e outras tinham caules avermelhados e a esperança de que iriam florir também. Havia uma variedade de situações. Para mim, que nunca tinha visto aquilo, tudo causava maravilhamento. Pequenas flores que surgiam direto do caule, a multiplicação de flores, aonde eu achava que era uma, eram muitas, folhagens imensas. 

Sementes de Valeriana em planta que floriu em vaso, no Rio de Janeiro
07122019_01.jpg
Valerianas florindo na Serra da Bocaina, SP. Brasil
Polinização de flor de Valeriana officinalis, na Serra da Bocaina, SP.
19122019_09.jpg
19122019_06.jpg
19122019_20.jpg
19122019_38.jpg
19122019_19.jpg
19122019_35.jpg
Variedade de formações e situações no processo de floração da planta Valeriana officinalis no Brasil
19122019_16.jpg

Depois dessa surpresa, só pensava em prosseguir: que venha o segundo ciclo!

valerianaofficinalis.com.br

Todas as imagens e textos protegidos por direitos autorais © Copyright Eliana Lattuca
  • Instagram
bottom of page