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2020

Em janeiro de 2020, as plantas têm um ano e meio de vida, e são 11 ao todo, todas no chão. Dez dentro da horta, sendo sete embaixo de uma área com sombrite, três sem sombrite, e uma dentro de uma pequena mata próxima, protegida. Destas, cinco deram flor e muitas sementes. Chama muita atenção uma haste floral com 1,65m de altura que ultrapassou o sombrite. Esta planta ainda passaria de 2m de altura. 

Sementes de Valeriana officinalis, caidas no solo, próximas às plantas que floriram no Brasil.
Haste floral de Valeriana com 1,65m. Plantada em espaço de horta, na Serra da Bocaina, São Paulo, Brasil.
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 Existem muitas sementes tanto no solo da própria horta, quanto amadurecendo nas plantas. Temos ainda, mudas das sementes da primeira planta a florir no Rio de Janeiro em 2019. Podemos vê-las no dia 7 de janeiro, depois no dia 21 do mesmo mês,  e já separadas. Resolvi manter estas mudas no Rio de Janeiro, para observação, e no dia 20 de fevereiro, troquei-as para tubetes. Quase metade delas , apresentava caules bem finos e folhas estioladas. Aparentemente usei um esterco pouco curtido. Começo a tentar corrigir.

Na Bocaina, em 22 de janeiro, dinamizo o preparado chifre-esterco e aplico na horta e em outras áreas da fazenda. Coletamos sementes das plantas que floriram na horta, e entre os dias 20 e 23 de fevereiro plantamos muitas sementes em quatro recipientes, da seguinte forma: três direto, ou seja, colhidas e plantadas sem congelar, e no quarto recipiente, deixando as sementes por uma noite no congelador

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Em março, a grande surpresa é que temos um mar de plantinhas brotando pelo chão da horta. Dedico quase dois dias a esquadrinhar o chão, observando e demarcando com estacas os locais onde há maior concentração, para evitar o pisoteio. A ideia é manter o máximo de plantas germinadas espontaneamente, onde brotaram. Seleciono as que estão em posições perigosas para pés incautos e transfiro-as para vasos. 

A outra novidade são as sementes que plantamos em fevereiro: temos 57 plantas germinadas. Desta vez, a observação mostrou que o vaso em que as sementes foram previamente congeladas demorou mais para germinar, seis dias, enquanto que os três onde plantamos direto, sem passar pelo congelador, germinaram em quatro dias. Mas, em ambos os casos, as sementes colhidas aqui germinaram muito mais rápido do que aquelas trazidas de fora, além de a taxa de germinação ser muito mais alta. O vaso das sementes que foram congeladas tem maior quantidade de plantas germinadas do que os outros, porém os outros têm plantas com desenvolvimento mais avançado, plantas com folhas maiores. Separei as mudas dos quatro vasos, 57 ao todo, para vasos individuais. Desta vez, fiz a mistura correta de esterco e terra, para evitar problemas como tive com as plantas que estão no Rio. Outra coisa surpreendente foi que a planta cuja haste floral tinha 1,65m, e saiu fora do sombrite em fevereiro, ultrapassou os 2m, e está cheia de sementes! Desta mesma planta, na base, saem várias hastes florais, e ainda há flores pela horta, ou seja, ainda teremos mais sementes.

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Germinação espontânea, de sermentes de Valeriana officinalis caídas no solo de horta. Sementes originadas de plantas que floriram no local. Serra da Bocaina, São Paulo, Brasil
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Em meados de março, fizemos o preparado (biodinâmico) Fladen. Intuitivamente, fiz tudo como se eu não fosse desenterrá-lo pessoalmente: dei as instruções completas do procedimento, de revolver duas vezes, deixei preparados de composto, enfim, tudo organizado para desenterrar em meados de junho. Foi o primeiro preparado feito na fazenda e foi emocionante fazê-lo com a participação de várias gerações dessa incrível família de agricultores. Uma semana depois do meu retorno, instalou-se a ordem do isolamento...

Com o início oficial do isolamento social por conta da pandemia, o acompanhamento das plantas da Bocaina passou para o mundo virtual. Passei então a me ocupar das mudas que havia plantado em 14 de dezembro de 2019, no Rio, a partir das sementes coletadas da primeira planta a florescer em novembro, no  Rio de Janeiro. Foram mudadas para sacos, e responderam muito bem à mudança, em maio os sacos já estavam pequenos para elas. Então, em meados de junho  mudei-as para vasos de 5l. 

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Com a entrada do inverno, o sol desapareceu de vez do meu apartamento. Havia me mudado no auge do verão, e não tinha atentado para esse detalhe fundamental. Ainda que tivesse muita luz , sol mesmo não havia. O sumiço foi gradual porém rápido, e comecei a ter problema de estiolamento de folhas. Com a pandemia, ir para a Bocaina não era uma ideia exequível.

A solução que encontrei foi deixar parte das mudas sob os cuidados de duas amigas "guardiãs", que tinham sol em casa, disponibilidade e muito boa vontade para a tarefa. Mantive 5 comigo, e 9 com elas. Chamamos essas plantas, entre nós, nascidas e em crescimento no Rio de Janeiro, de Valerianas Cariocas.

Como vivia trocando os vasos à medida que as plantas cresciam, comprei uns potes provisórios, e descobri ao longo do uso que a borda afiada "quebrava" o caule das plantas quando estes pesavam sobre as bordas. Ao mesmo tempo, as amigas também observavam e discutíamos as providências. Falávamos constantemente sobre esse assunto, e eis que a Chris começou a perceber e a registrar que as plantas começaram a fazer curvas, evitando as bordas afiadas. Lembro da animação dela: "acho que elas estão aprendendo a fazer curvas para evitar a borda". Os registros são imagens da Chris e Luize. As plantas ficaram cerca de dois meses e meio com minhas amigas, e foi uma experiência incrível para nós três, e creio eu, também para as Valerianas, que "aprenderam" mais dois locais diferentes. 

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Adaptativas e flexíveis:

fazem curvas!

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Ainda em julho, programei fazer um bate-volta até a Bocaina. Foi muito interessante, apesar da rapidez com que estive lá, ver um cenário de inverno depois de toda a exuberância de flores que eu havia presenciado. A título de comparação, registrei as mesmas três Valerianas em 12/4 e a segunda em 9/7, quando estive lá. A diferença é impressionante, parecia outro lugar. Mesmo assim, ainda havia uma planta florindo. 

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As Valerianas e a fauna local

 

TAPITI – Quero reunir aqui, três histórias curiosas que aconteceram entre janeiro e agosto deste ano. A primeira delas, foi uma única planta, com a qual fizemos a experiência de colocá-la numa nesga de mata, bem próxima à horta, onde ficam as outras plantas. E ela seguia bastante bem, até que Antonio, meu grande parceiro de trabalho, percebeu que "alguém" tinha comido a planta e deixado somente um talo. Passou a observar. A planta brotava e "alguém" ia lá e comia. Espírito goetheano sem saber, Antonio resolveu se esconder e observar, até que descobriu quem estava se locupletando com as folhinhas tenras de Valeriana: um coelho! Segundo a Wikipedia,  "O Tatipi costuma ocorrer em regiões de altitudes que variam entre o nível do mar a 4.800 metros". Descoberto o culpado, a solução foi transferir a planta, praticamente só raiz para a horta. Em julho, ela já estava bonita novamente. A foto do Tapiti foi gentilmente cedida por um amigo e vizinho, que registrou o flagrante em sua fazenda.

Foto: SERGIO LUTZ

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CAPIVARA – Fizemos uma experiência em janeiro deste ano: plantamos uma única mudinha que consegui germinar de um lote em que não vingou mais nada, próximo à margem do rio Paraitinga. Escolhemos um local no meio de uma área que denominamos "reserva", cercada, antigo pasto, no momento em regeneração. Achamos um local no meio da braquiária já se retirando, e colocamos a muda. Quando voltei em fevereiro, a notícia: "A capivara saiu do rio e comeu a muda!" Como você sabe que foi a capivara, Antonio?, perguntei eu. "Ela deixou o montinho de coco no lugar". Volta e meia, quando aplico preparado biodinâmico, aplico também nessa reserva. Meses depois, justamente fazendo isso junto com Gabriel, neto do Antonio, passamos no local do crime, e o olho atento do menino, que não perde uma: "Lili, a muda da Valeriana voltou!"

CORRUÍRA – A horta onde ficam as Valerianas sempre foi um lugar seguro. Cercada com mourões, nem gado nem galinha entram lá, só mesmo os polinizadores. Eis que com a aproximação da primavera, e com uma planta já em processo de floração, novo enigma: as hastes dessa planta completamente desfolhadas, as folhas em montinhos bem picadinhos ao lado da planta. Mistério... O espírito goetheano observador de Antonio não dava conta de saber quem era o autor do estrago. Até que o meliante comeu o botão de flor. Foi o estopim: meu amigo se entocou atrás de uma moita de lavanda e ficou por lá decido a saber quem estava fazendo o mal feito e dar um basta. A surpresa veio rápido: um passarinho mínimo, a Corruíra. Concluímos que com as queimadas nas imediações, aliadas à epoca de nidificação, os passarinhos em geral ficaram sem comida. Havia noticias nos arredores de várias hortas atacadas por passarinhos. A solução provisória foi envelopar a horta toda com sombrite, ao menos até passar a época da nidificação.

Foto: SERGIO LUTZ

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As Valerianas Cariocas já estavam passando da hora de ir para o chão, os vasos estavam apertados e elas estavam ficando amareladas, eu precisava correr, mas ainda havia a questão da pandemia. Em meados de setembro, resgatei as plantas, enchi o carro e fui. Colocamos essas 15 plantas no chão, no dia seguinte à chegada, e foi realmente a tempo: praticamente eram só raiz. Eu havia experimentado fazer drenos com manta nos vasos, e as plantas estavam bem sofridas com essa contenção. Nessa mesma estada, num dia apliquei fladen e em outro, chifre-sílica, em todas as plantas, as do chão e as mudas que ficam nas casinhas teladas. Nas mudas das casinhas, limpeza de cochonilhas e pulgões, quase uma tradição! Eles vêm, ficam um tempo, e depois, como chegam, desaparecem. Pelo chão da horta, muitas mudas espontâneas e muitos sinais de rebrota. Localizei também um problema de fungos, que comecei a tratar com preparado de Cavalinha.

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As Valerianas Cariocas, que foram colocadas no chão, seguiam se recuperando e aos poucos, perdendo a cor amarelada e ficando mais parecidas com as plantas que já estavam lá antes. No mesmo local, várias plantas reapareciam e outras mudas espontâneas se desenvolviam. No Rio, as mudas que eu mantinha em vasos pequenos, chegaram no limite e recomecei o processo de gradativamente, trocá-las para vasos maiores. 

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 Outro trabalho feito, foi retirar mais de 20 mudas espontâneas, em zona de risco de pisoteio, e transferi-las para vasos. Ainda tínhamos várias mudas em sacos grandes que também colocamos no chão, porém, agora em um novo espaço fechado para esta finalidade. Plantamos junto, alecrim e lavanda. Encontramos também, mudas mais longe, próximo a um pé de palmito, ainda dentro do primeiro espaço, mas, afastadas de onde está a concentração de plantas. Na interação com a fauna local, a capivara encontrou novamente a muda que havia rebrotado (contei essa história anteriormente), então trouxemos essa muda para dentro do espaço cercado.

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O plano era colocar no chão do novo espaço as mudas que ainda tinha no Rio, já grandes. Quando eu as trouxe as mudas do Rio, acabamos passando além dessas, todas as outras que tinham algum tamanho, algumas até pequenas, mas vigorosas. Eram mudas que retiramos do chão, em fases de desenvolvimento variados. A ideia era ver como iam se comportar sendo colocadas mais cedo no chão. Entre as mudas que trouxe do Rio, apesar do sofrimento da viagem, já havia botão floral em uma delas. Iniciamos também a experiência de plantar algumas sementes diretamente no chão.  Coletamos 330 sementes e fizemos vasos com 30 sementes cada. Quatro vasos vão comigo para o Rio, os outros, permanecem na Bocaina: não perder nenhuma semente é a meta! As plantas prometem muitas sementes ainda.

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"Não perder nenhuma semente" é a meta: lá vem o terceiro ciclo!

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