
UMA EXPERIÊNCIA DE CULTIVO BRASILEIRA
2024
O ano começa com uma excelente germinação das sementes plantadas em dezembro, e logo depois, com a tarefa sempre inglória – e de partir o coração –, de eliminar as mudas excedentes que aparentemente, "deveriam" parecer piores do que as vizinhas que estão no mesmo espaço. Além disso, preparar um novo espaço para estas mudas na área atual, que também é nova. Acho que parte dessa experiência é isso: testar novos espaços. Algumas plantas seguem querendo florir, apesar de já termos "encerrado na tesoura" essa etapa. Como diz uma autora que aprecio, "A vida quer viver", havendo alguma condição, tá lá a vida brotando...





Comparativamente, entre os seis anos e meio dessa experiência, nunca vi tanto inseto: grilo, gafanhoto, besouro, e elas, as formigas. No caso, as Quenquem... Estamos numa longa tentativa de "diálogo" razoavelmente frutífera. Ainda bem que há bastante mudas... Há que se cultivar paciência, já que desde abril do ano passado, estamos numa área nova, penetrando o espaço, e eventualmente, causando desordem. Por mais que a intenção seja boa, os intrusos somos nós. Também não dá para descartar as malfadadas mudanças climáticas, com temperaturas de forno, durante o dia e uma umidade louca...



Lidar com a natureza e a terra requer muita paciência para modificar algumas situações, e alguma tranquilidade, para esperar os resultados, que podem ser bem diferentes do planejado. Claro que um bom planejamento ajuda, mas, as coisas podem, de fato, sair de outra forma. Plantamos 25 bananeiras, feijão guandu, pois trabalhar com a terra coberta é a meta, mas para isso, precisa trabalho, e... paciência! Paciência da terra para com a nossa intromissão, para que possamos acertar o passo, e paciência nossa, pois aqui, não tem botão de "enter". Seguimos também nas experiências de combinações que enriqueçam o entorno da Valeriana. A Capuchinha fez muito sucesso, principalmente, com as formigas!



No equinócio, consegui atingir uma meta que me deixou muito feliz: enterrar o primeiro preparado biodinâmico aqui, o chifre-esterco, e de quebra, montar o barril de fermentação, com uso de preparados de composto, seguindo a receita de um professor espetacular da pós-graduação, o professor René Piemonte, já falecido, mas que vive nos muitos ensinamentos transmitidos a muitas pessoas. Graças a generosidade de um produtor de laticínios orgânico, pude ter o esterco de qualidade que faltava, pois aqui não há vacas. Mas é assim que funciona: faz-se o melhor possível dentro do que temos, e assim sigo.



O ano prossegue, e estamos a poucos dias do inverno enquanto escrevo esse relato. As duas áreas novas plantadas progridem bem, fotos comparativas dos meses de abril e junho de 2024.




Agachada em abril "conversando" com as formigas, as próximas interlocutoras seriam as lagartas de rosca, e assim vamos aprendendo a época de cada uma dessas visitas e a melhor forma de convivência com elas.

A convivência com a fauna local é curiosa. No viveiro, o que eu chamava no passado de "rato" é do gênero Mus, que abrange vários roedores. O que nos visitou parece ter parentesco com canguru, dada a altura que salta apesar de não medir nem 10cm. Nenhum medo de mim, deixou eu chegar pertinho, e fez ninho no meio das mudas enviveiradas... Mas, dessa vez, não roeu os sacos. Na área de cultivo do ano passado, que será colhida em julho, avançamos alguns passos no gargalo da cobertura, rastelando a "estrada" que leva até a área de cultivo. Mais um aporte de matéria orgânica e uma forma de trazer a sabedoria de vários tipos de arvores diferentes para o cultivo das Valerianas, por meio das "informações contidas" nas folhas que caem delas, além de que varrer não gasta combustível, e ainda podemos trabalhar na sombra.


E ainda, mais uma novidade na área nova, agora toda ocupada: entender o horário e quantidade de sol de outono disponível para as Valerianas, já que estamos em uma área com a forma aproximada de uma ferradura, cercada de mata. A surpresa foi que o sol começa a chegar apenas as 8h, e só alcança a área toda uma hora depois, veja nas fotos. À tarde, vai embora rápido, às 15h já é quase uma sombra completa,,,


O inverno vai chegando ao fim. A área da segunda foto acima, aquela que aparece verdinha lá no fundo, foi colhida, e preparada para adubação verde. Na foto à esquerda, abaixo, ainda antes da calagem, já sem as Valerianas. Fim de mais um ciclo. As outras duas áreas seguem se desenvolvendo, e achei melhor arrancar o feijão guandu que havia plantado na entrelinha de uma das áreas. Primeiro achei que estava ajudando, mas num certo ponto, passei a achar que estava atrapalhando, quando começaram a dar flor e não manejei como deveria. Pareceu começar a atrasar as Valerianas. Arranquei tudo, e bingo! Lá estava ela, a primeira flor da temporada, antes da primavera, escrevo no dia 6/9. Ela já devia estar ali, em desenvolvimento, há pelo menos uma semana, escondida pela "feijoada"...


E por fim, deixo dois registros que sempre me encantam: resolvi replantar uma muda numa falha, olhei por alto, e não havia "nada". Meti a enxada, joguei terra para o lado, plantei a muda nova e vi algo jogado. Viva. Valeriana, ela mesma. Com um ponto verde, comida por formigas ou sei lá pelo que, porem viva. Me desculpei pela grossura, pela enxadada, e coloquei-a em outro local. Na área que foi colhida, foi adicionado calcario e o trator passou por cima para incorporar. Caminhando uma semana depois, e aplicando preparado biodinâmico 500, quem eu encontro: uma muda de Valeriana, crescendo sem irrigação, sem cobertura, depois do trator passar por cima... Resiliência, coragem, resistência, de fato, essa planta é uma mestra.


Quase no meio de dezembro, escrevo esse relato e provavelmente, será o último desse ano. Consegui anotar a quantidade de plantas florescendo e a taxa de aumento por três semanas consecutivas, e estou tentando contabilizar o número de sementes geradas em uma planta, na verdade estou fazendo isso em duas plantas e já é mais trabalho do que o possível. Temos sementes, muitas flores, e fizemos o preparado de Valeriana, seguindo o método 3 do Guia de Boas Práticas da Demeter Internacional. Outra coisa testada, foi manter mudas enviveiradas por um ano, olha, que experiência! Começou por uma circunstância não planejada e virou experimento, tornando-se um verdadeiro "curso de viveirista de Valerianas"! Aprendemos um monte, e temos mais de 30 plantas florindo em sacos de três tamanhos diferentes... E pra completar, duas plantas florescendo no Rio de Janeiro, capital, ao nível do mar. Um bom ano, 2024...


Como diz a música, "gratidão pelos dias ruins e pelos bons, que me moldaram, e moldarão...", muitos aprendizados, sétimo ciclo em curso!!!
